No tempo da dor, escrever é difícil. Qualquer palavra soa
tortuosa, rouca, sem som. A metáfora gerada no meio do sofrimento é forte,
brava... poética. Mas só dentro de nós mesmos, dentro de nossas mentes, dos
nossos peitos carregados. Fora de nós: seja no papel, na parede ou escrita em
letras de vento na voz, ela soa gasta, fútil, clichê. Como é possível tal
mudança? Tal distorção? Se o céu for o sofrimento sentido, a dor desgraçada; as
palavras escritas são como pássaros de asas arrancadas. Pássaros criados,
gerados, desenvolvidos unicamente para voar, mas que por um acaso, engano ou maldição
mal chegam a abraçar o vento.
Mas talvez, só talvez, esse mal seja realmente necessário. É
preciso que a dor primeiro passe para que ela seja sentida novamente. Afinal,
escrever é fazer doer de novo, romper suturas, revelar fraturas. É ver a feiura
da dor não lembrada, mas jamais esquecida. Para escrever talvez seja necessário
que, primeiro, as lágrimas caiam, os gritos ecoem e as almas sofram. Pra depois,
quando surgir a tão famosa calmaria pós-tempestade, possa-se relembra tudo de
novo, mas sem os excessos... De forma igual e diferente. Talvez, só talvez,
escrever seja re-doer.
- F.A.R.S