Meu amor estará para mim tal qual um delírio desgarrado. Um pecado justificável. Um delírio sem fim. Será inútil e desconcertante, o pior amigo e o melhor amante. Terá a risada barulhenta e o gênio ruim. E as declarações? Haverão? Não, não. Pois ele será seco como as boas bebidas e cru como os bons homens. Sem floreios, senhores. Não me venham com floreios. A elegância que fique em seu pedestal, que eu viverei bem aqui em baixo. Meu amor virá descalço, usando a mais velha de suas camisas e mais genuíno dos seus sorrisos. Terá o mais nobre cheiro de sabão, cheiro de gente que lava a consciência com o sono profundo de todas as noites. Virá com as mãos cheias de calos e o caráter imperfeito. Virá torto, mas virá.
sábado, 11 de abril de 2015
Luzes Urbanas
Encaro as janelas e por um minuto, todas são espelhos. Talvez seja isso a sintonia que a humanidade carece, ver irmanado em cada prédio, duzias e mais duzias das próprias dúvidas e desejos. Está tudo lá, em diferentes medidas, os mesmos dessabores e desventuras. Nesse segundo que já passou antes mesmo de ser descrito, todos partilham de um irrecuperável sabor agridoce de estar-se vivo nesta cidade.
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