sábado, 11 de abril de 2015

Luzes Urbanas


A janela extensa escancarada é uma síntese da vida da cidade. Escapolem por ela um sem-fim de barulhos, resmungos, ruídos. Um carro buzina, escuto um tilintar de copos e uma criança ri. Pela mesma janela, um quadro pintado por uma miríade de luzes e retas me mostra todo um mar de apartamentos, casas, ruas e prédios. A noite revela, dia após dia, as janelas abertas dos humanos insones, com as luzes acesas que desatinam em ser mais uma das estrelas na constelação meditativa da cidade.

Encaro as janelas e por um minuto, todas são espelhos. Talvez seja isso a sintonia que a humanidade carece, ver irmanado em cada prédio, duzias e mais duzias das próprias dúvidas e desejos. Está tudo lá, em diferentes medidas, os mesmos dessabores e desventuras. Nesse segundo que já passou antes mesmo de ser descrito, todos partilham de um irrecuperável sabor agridoce de estar-se vivo nesta cidade.