- Onde está a menina com cheiro de
poeira de estrelas? Onde está? A menina-pássaro, a
menina-tempestade, seus olhos por acaso a viram?
- Ah, aquela menina-flor cujo rosto
era apenas lábios e olhos ? Aquela cuja voz era vento?
- Sim, esta. A menina que alimentava
sonhos com botões de rosa.
- Não sei o certo, tampouco sei o
errado. Disseram-me que morreu.
- Pois um rouxinol que por vezes
embaraçou-se no cabelo dela e cantava junto a sua voz sussurrou-me um segredo.
Disse-me o pior, disse que se apaixonou.
- Ah, muito me entristece. Mas uma
bruxa um dia me preveniu que o destino dela era perecer por amor. Nasceu
marcada com a Palavra. Conte me mais sobre a desventura da menina-nuvem, que
ela é cara a mim por ter cantado um louvor sob o luar em meu nome.
- O rouxinol não disse-me mais nada.
Mas um carvalho onde ela entregava-se ao badalar do sono disse que
ela sussurrou enquanto dormia que seu amor era de um nobre.
- Oh, que a Lua a guarde. A pequena
menina apaixonou-se pelo Rei?
- Antes o Rei, que nasceu guerreiro
de coração limpo e livre. E pense, a menina de botões, dobradiças e penas
amaria um Rei? Não, a menina gosta do singelo, do sutil, do brilho pequeno de
pequenos olhos. A menina gosta de "pequenitudes".
- Pois é verdade. A menina vivia de
pés descalços a catar pequenos arremedos de linhas para tecer ninhos de
andorinhas. Ela tem um querer profundo, mas atulhado de pequenas coisas.
Diga-me sem demora quem fisgou o coração da menina feita de Floresta?
- Digo-te que ela apaixonou-se
pelo Conselheiro do Rei.
- O Conselheiro?! Aquele que
finge-se de bobo da corte e semeia olhos e ouvidos em toda parte?
- Esse mesmo. Pergunto-me se havia sorte
pior para a menina de coração feito de teias de aranha e promessas, coração
frágil e efêmero. Apaixonar-se logo por um homem cujos sorrisos são
tão falsos quanto fartos.
- Não merecia destino tal como esse, gostasse
daquele que assava pães e verdejava em olhos.
- E não disse o pior, não contei a ti o
ocorrido
- Ele a traiu? Ele a machucou?
- Sim e com requintes de crueldade.
Disse a menina, pobre menina, que a amava; disse com os olhos. De delírio, ela
cantou de amor a cada noite e poetizou os olhos dele a cada dia.
- Bem disse a bruxa, ela nasceu marcada
com a Palavra. Doce menina maldita. Seria um anjo, não fosse o pecado dos olhos.
- E o Conselheiro, maldito, depois de 7
luas disse amava outra, a amazona nobre que impunha uma espada de ouro.
- Pobre menina-estrela, seu peito deve
sangrar com dores de traição. Sabe onde ela está?
- Tanto não sei que a ti vim saber dela.
Acho que fugiu. Caiu no livro e a história nunca a soltou
- Dever ter virado rima, alunada como
era.
- Não, um verso
- Estrofe?
- Talvez, só talvez, poema.
- De estrelas, será?
- Não, de Amor.
(F.A.R.S)