sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Novos Romeus


     O novo Romeu, senhores, é um belo espécime de sobrancelha arqueada, óculos escuros escorrendo displicentemente pelo nariz e de sorriso irônico e debochado. Com passos de encanto calculado, ele flerta com o perigo a cada passo e a cada passo desperta um suspiro entrecortado. O mais novo Romeu já tão jovem coleciona o seu quinão nada humilde de corações partidos e cartas de amor rasgadas. Migalhou uma miríade de declarações apaixonadas que, invariavelmente, tinha como par uma futura despedida lamuriosa. Ah, adorável e terrível Montecchio! Não há lábios que limpem seus pecados.
Sua Julieta poderia desfilar pela noite como uma joia alva em uma princesa etíope que ele não a veria, ou melhor, não a desejaria. Quer coisa mais inútil que a dedicação eterna, a submissão total? Dane-se os pares perfeitos, Romeu ansiava por ser solitário rodeado de muitas mulheres. Belas mulheres. Gostava de seu apartamento caro, seus bons ternos e da paz silenciosa de todos os dias. Gostava de seduzir e estender a mão para pegar o que queria. Romeu sabia-se bonito e sabia que isso abriria as portas sem que ele precisasse forçar. O menino era diamante: encantador à vista, duro e frio ao toque. E a sua vida, por sua vez, fazia as vezes de coisa simples e prática: bela, gélida e vazia.