domingo, 25 de janeiro de 2015

Chuva




A chuva molha meu quarto pela janela aberta. Em algum momento vou fechá-la, em algum momento vou cuidar da bagunça molhada e em algum momento vou retornar o meu quarto para sua costumeira organização. Mas, por agora, deixo que o vento frio arrepie minhas pernas enquanto sinto o deslizar do meu edredom favorito. O barulho da chuva também me agrada, um chiar de conforto e relaxamento. Em tudo, aconchegante. 

Ainda gosto de janelas abertas. Ainda gosto do amor. Ainda gosto dos dois pelas características que os unem. A brisa que entra é como o frescor de olhos que se cumprimentam. O perigo dos terrores noturnos é como o medo de deixar-se cair; arrepiante, mas terrivelmente doce. Uma janela aberta é uma possibilidade, assim como amor também o é. Uma janela também é liberdade. Abri-la e escolher ser livre, ou permitir-se ser presa. Algo como a liberdade não de amar, mas de se permitir cair em amor.

Entre janelas e amores, perco-me em cismas inúteis. Um sorriso escorre em meus lábios quando percebo que, no fundo, todos os bons pensamentos são cismas inúteis. Do que vale a metáfora de uma janela aberta e um sentimento conjectural? Nada, nada. Não passa de poeira de estrela, carinho de nuvem e borboleta de vidro. Bonito de beleza que aperta o peito e planta um sorriso, mas irreal.

O que importa hoje é essa chuva, esse frio e esse gotejar de preguiça que enlanguesce o corpo e o espírito... Deixemos as divagações para os dias menos doces, para as horas de monotonia doente ou para quando a alma resolver que a realidade não basta. Discutamos o amor e a metáfora da janelas em outro momento que não seja o presente. Fica decidido roubarei um beijo e fecharei a janela, amanhã. Por agora, senhores, aproveitemos a chuva.