quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Janela Diante Um Dúvida Secular

         A lua plúmbea indaga-me de seu banco etéreo: Amor; será real? Meus livros, recheados de lamúrias e declarações, respondem em uníssono: “Sim, nada mais real do que o amor”. Entretanto, não tenho plena fé em livros escritos por poetas cujos olhos insistiam em enxergar beleza em cada minucia que vissem. Já meu espelho, testemunha das olheiras que levo expostas no rosto e das cicatrizes que riscam meu peito, não desmente nem consente; receoso de que o sentimento que fervilha nos corações humanos nem seja próximo ao que tantos poetas tolos descreveram como Amor. Encaro a pena elegante, aquela com que escrevi tantas prosas repletas de amores e sofrimentos fantasiosos e inventados. Por que amor, amor mesmo, desses rubros e fervorosos que arrancam a calma e o sono, acredito que nunca tenha tido. Se senti algo, foi um sentimento que fez aumentar minha afeição por alguém, mas que não passou de um encantamento tolo e efémero. Eu, que apesar dos pesares sou romântica e morrerei sendo, tenho fé que o Amor é algo além de uma tola paixão. Para mim, amor não são provas e declarações ou desejo e obsessão. Amor é quando o menininho agarra a mão da mãe à noite e entre bocejos e pálpebras pesadas de sono sussurra: “Não me deixes”.