sábado, 18 de outubro de 2014

Janelas & Letras

O som das teclas da máquina de escrever perde-se no vazio da madrugada. O eco, que reside nas paredes claustrofóbicas do meu quarto, transforma o som em uma marcha ritmada. A luz fúnebre de um sol ainda sonolento filtra-se pela vidraça embaçada. Minuto a minuto, letras tortas riscam a página branca, corrompendo a pureza do papel virgem. Hora a hora, novas páginas juntam-se a pilha torta junto a escrivaninha. Depois de dias em que a mesma rotina repete-se, interrogo-me: Valerá a pena? Sinto-me receoso, duvidoso de que minhas palavras valham o esforço. O ato de escrever estas minhas tristezas e decepções é tão vão e inútil… que provavelmente não há de ajudar-me em nada. Afinal, do que adianta gritar para o vazio? Minhas palavras são recebidas por ouvidos surdos e mentes apáticas. Não há leitores, nem mesmo amigos para escutar minhas tempestades. Neste mundo falta tempo, falta paciência, falta delicadeza para aproveitar os prazeres que exigem mais dedicação. Por isso floriculturas e livrarias, lugares feitos para espíritos tenazes, ão de morrer e eu, escritor, ei de morrer junto a elas.