sábado, 18 de outubro de 2014

Delírio I

Tinha os pés descalços junto a terra úmida. Sentia as várias texturas do solo coberto por folhas molhadas. Acabava de amanhecer, mas o chão era quente assim como a brisa. Caminhava entre as árvores esparsas de uma floresta. O cheiro era palpável: junção de ervas e outras tantas plantas. No meio dos odores um se destacava: o de folhas eucalipto. O vestido púrpuro de tecidos leves caia-lhe solto no corpo. O vento outonal esvoaçava os panos, formando dois esboços de asas. Teria ela a forma de um anjo, não fosse o pecado nos olhos. Ah, olhos… Azuis como nuvens cerúleas em um céu branco. No movimentar do vestido entre um passo e outro, via-se fragmentos de desenhos negros nos seus ombros, pulsos e pés. Eram palavras, de significados insondáveis e sentidos calamitosos. Podiam formar uma oração, uma confissão ou declaração de amor. Ao certo, ninguém sabe. Antes mesmo do sol pintar o firmamento de laranja, ele já havia se posto entre os cachos do seu cabelo. E pôs-se em toda fúria e ardor, tingindo de rubro os fios curtos e emaranhado. Branco, azul, vermelho e é claro, o róseo do lábios cheios e pequenos. Era uma pintura viva, o retrato de um pecado justificável. Talvez seja só uma miragem minha ou um delírio desgarrado. Ou mais um sonho de ver cara a cara, na forma de ser sólido e concreto, a Poesia."